(As Contradições do Corpo, Carlos Drummond de Andrade)
Olho-me no espelho e fico estarrecida com o desenho opaco e sou possuída pela angústia; em milésimos de segundos, não reconheço o desenho dos contornos disformes – é a minha velhice – meu corpo dói e cuidados essenciais são necessários. Exemplos: caminhar, pilatizar, alongamentiazar, dançarjá, nadarjá, olhar pôr do sol e despir-se ao luar triste, cansativo. Chato é envelhecer e perceber com clareza e delicadeza o vencimento, ou melhor, o prazo da vida, a validade: e não é fake, é verídico!
No filme “Corsage”, dirigido por Marie Kreutzer, e que narra a vida da imperatriz da Áustria – Elizabeth von Wittelsbach (interpretada por Vicky Krieps) –, a personagem se defronta com a tirania e reage com naturalidade, mostrando sua rebeldia diante das regras impostas pela monarquia. Aos 40 anos é considerada “velha” (ela também se considera assim), o padrão de beleza sendo fundamental já naquela época. Usava máscaras para esconder seus 40 anos e o corpete era peça indispensável! Diante do espelho, com uma fita métrica, pedia que apertassem o máximo possível seu espartilho, de forma a que o mesmo se igualasse a um pequeno ramalhete de flores – bem apertado, justo –, sufocando as emoções e os pensamentos, priorizando a beleza, mesmo camuflando o desconforto do corpo.