Memorar / Suely Tonarque (*)
Segundo Ivan Izquierdo, no livro “Memória (3ª edição – Editora Artmed): “O que é a memória?”
“Memória significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se “prova” o que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação. Só aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido.
Cris, Nádia, Bia, Rita, Neide, Nelma, Rita, Marli, Vera, Maria Célia e Cris Vilela – um encontro memorial que merece ser registrado em homenagem a todas as participantes que buscavam no lugar – a memória – as vivências guardadas e compartilhadas com delicadeza e detalhes, associada aos vestidos dos significados, ou melhor, os vestidos da ressonância emocional rememorada.
O encontro foi possível através do Projeto Segundas Intenções, Memórias e Histórias, com encontros na segunda-feira (10 de outubro). Título: “Memória está na Moda?”
Na abertura, ouvimos Ray Connif – Bésame mucho – de olhos fechados, à busca das emoções relacionadas aos vestidos:
– “Na minha formatura da 8ª série, minha mãe bordou o vestido inteirinho e dancei a valsa com meu pai”;
– “Meu vestido roxo… até hoje está na minha lembrança”;
– “Só usei vestido até os 20 anos; agora só uso calça comprida”;
– “Meu vestido de noiva era lindo: da cor verde clara;
– “Meu vestido de crochê, feito pela minha tia”;
– “Meu vestido de babados”;
– “Meu vestido de baile, inesquecível!”
Duas horas de lembranças preciosas, guardadas e compartilhadas com mulheres que acabamos de conhecer e com quem dividimos nossas ricas recordações do passado.
Ouvimos Madona – La Isla Bonita – em homenagem aos seus 66 anos, cheia de vida e com muita energia para os shows e o cotidiano com os filhos… e de namorado novo!
A troca das lembranças e a escuta para cada uma de nós foi um momento especial, do qual guardamos a experiência de nos tornarmos aquilo que possui ressonância e significado. Rememorar o vestido do significado é se reconectar às nossas histórias e abraçar o caminho percorrido.
O VESTIDO
(Adélia Prado)
No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
(Livro: Bagagem, 1976 – Editora Record)
(*) Suely Tonarque é psicóloga, gerontóloga, escritora e especialista em moda no envelhecer